A brigada voluntária “Anjos Jacuipenses”, criada há seis anos para atender ocorrências no município de Riachão do Jacuípe, na Bahia, foi a responsável pelo salvamento das vítimas do acidente envolvendo um micro-ônibus e um caminhão que carregava mangas na BR-324, no interior do estado, no noite do último domingo. O grupo conseguiu salvar seis sobreviventes.
Composta por bombeiros, técnicos de enfermagem, estudantes de medicina e assistentes sociais, a equipe de Anjos Jacuipenses surgiu a partir de uma necessidade percebida pelo bombeiro civil Lucival Souza, de 36 anos. Ele foi um dos fundadores da equipe formada para prestar atendimento à vítimas de acidentes na BR-324, mesmo local do acidente que deixou 24 mortos na rodovia federal.
— Quando decidimos criar o projeto, a cada 15 dias aconteciam cerca de três acidentes na região, alguns de pequena gravidade, mas muitos deixavam pelo menos duas vítimas. Como os bombeiros militares vinham de Feira de Santana e demoravam quase três horas para chegar no local, decidimos criar nossa equipe — explica Lucival Souza, presidente da iniciativa.
Com um histórico de atendimentos que vai de acidentes em rodovias e incêndios à realização de partos, os Anjos Jacuipenses atendem principalmente o território de Riachão do Jacuípe, porém, Souza ressalta que atendem todos os chamados, independente do endereço.
O projeto, que sobrevive de doações, hoje é um caso de sucesso na cidade. Nas redes sociais da brigada, a população demonstra admiração pela equipe composta por 32 voluntários, mas nem sempre foi assim.
— O começo foi muito difícil, não tínhamos nenhum veículo então atuávamos com nossos próprios carros. As pessoas não entendiam a nossa função, desde os salvamentos até nossa atuação social, já que também distribuímos cestas básicas, roupas e brinquedos… mas hoje, as portas estão sempre abertas onde nós vamos — explicou Souza.
Foi por meio de doações que a brigada conseguiu criar a própria frota, composta por quatro ambulâncias. Há cerca de três anos, a equipe de anjos atua em uma sede própria, construída com o apoio da população local.
— A gente vive 100% de doações. O terreno da nossa sede foi doado, além de todo o material de construção. Duas das nossas ambulâncias foram compradas por caminhoneiros parceiros do projeto que protegem a BR-324. Nosso objetivo agora é trocar três das ambulâncias por veículos mais novos — contou Souza.
Resgate na BR-324
Na noite do último domingo, 24 pessoas morreram, e outras cinco ficaram feridas, após uma colisão frontal entre um micro-ônibus e um caminhão que transportava mangas. O acidente aconteceu por volta das 22h30.
A equipe de Anjos Jacuipenses participou do resgate de vítimas a partir de um chamado emitido pela Polícia Militar. Por se tratar de um chamado de agentes da PM, a etapa de verificação de ocorrência (para evitar trotes) foi descartada e oito profissionais da brigada foram enviados para auxiliar no socorro das vítimas. A equipe estava a cerca de 50 quilômetros de distância do local do acidente.
A colisão aconteceu depois de um dos carros ter utilizado a contramão, possivelmente, segundo a Polícia Rodoviária Federal, para realizar uma ultrapassagem — o que é proibido no trecho da rodovia em que ocorreu o acidente. No entanto, a causa ainda não foi confirmada e será divulgada apenas após a conclusão da perícia técnica.
No local, os Anjos Jacuipenses foram os responsáveis pela remoção das vítimas das ferragens dos veículos. Com auxílio de equipes de salvamento das cidades de Nova Fátima, Gavião e Capim Grosso, os agentes iniciaram o socorro por volta das 23h e finalizaram às 3h da madrugada de segunda-feira.
— Nossa equipe resgatou todos. Analisamos as vítimas e quem tinha sinais vitais nós deslocávamos para as ambulâncias. Hoje temos um numero de sobreviventes por conta da parceria de todos — disse Lucival, a respeito do acidente do último domingo na BR-324.
O time de Anjos Jacuipenses já havia realizado o salvamento de vítimas de um acidente envolvendo 17 pessoas, que resultou em oito mortes.
Para Souza e os mais de trinta parceiros de resgate, com idades que variam dos 18 aos 36 anos, o compromisso com a vida é o principal requisito para fazer parte da equipe.
— Nossa missão é salvar pessoas conhecidas e desconhecidas e fazer a diferença no mundo — afirmou o idealizador da brigada.
Jornal O Globo *Estagiária sob supervisão de Alfredo Mergulhão